Chic x Ryqueza
Estava fora quando soube da morte da estilista Clô Orozco. Demorei para digerir a triste notícia. Queria dizer alguma coisa por aqui, pois sinto muito a partida dos estilistas que admiro, mas não tinha conseguido parar para escrever antes…
Quando Yves Saint Laurent faleceu, fiz um breve post. Para mim, com a sua ida, foi-se também um pouco (mais) da alta-costura, a arte que ele exerceu tão bem…
No dia 28 de março, o Brasil se despediu não somente de uma de suas melhores estilistas, mas também de uma das poucas representantes do “chic” no país.
O “chic” parece tão fora de moda desde que a “a cara da ryqueza” se tornou o must.
“A cara da ryqueza” pode ter muitas facetas: de glamour, de luxo, de poder, de brilho, de excesso, de extravagância… Uma coisa é certa: cada vez mais, a “ryqueza” é interpretada como sofisticação.
O engraçado é que nem sempre o que tem “a cara da ryqueza” tem a qualidade que sugere – afinal, nem tudo que reluz é um bordado bem feito, nem todo arranjo enorme traz as melhores flores, nem todo bolo de 6 andares tem o melhor acabamento de glacê e nem sempre lagosta faz sentido no menu.
O chic é rico, com “i” (e isso nada tem a ver com $). O chic tem informação, tem conceito, tem certa discrição. O chic não precisa gritar, ele sussurra porque tem segurança. O chic pode ser simples (mesmo quando é complexo), mas jamais é simplório! Acima de tudo, o chic é atemporal. E é por isso que quando a Huis Clos lançou sua linha de vestidos de noiva, charmosamente batizada de “Prêt-à-Marier“, a marca deixou o universo do casamento um pouco mais chic.
Dentre as tantas frases geniais de Coco Chanel, talvez a minha preferida seja: “Le luxe, ce n’est pas le contraire de la pauvreté mais celui de la vulgarité.” Numa tradução amadora: “O luxo não é o oposto da pobreza, mas sim o da vulgaridade.” (lembrando que vulgar também significa banal, corriqueiro, medíocre). A escolha de Clô Orozco como tradutora do livro “Diferente como Chanel” não poderia ter sido mais acertada. No meu dicionário, Clô Orozco era a tradução do chic, prerrogativa do luxo.
A cara da elegância.
21 Comentários
Acho que você tem razão, a “ryqueza” è interpretada/confundida com a sofisticação. Inversão completa de conceitos, papéis, talvez até valores.
Excelente texto, Constance. Parabéns.
Belíssimo texto!
Vc tem razão no que disse, mas note que tanto ser chic como rico não são suficientes para ter uma vida feliz, tanto que aconteceu o que aconteceu com ela. Esaas coisas não devem ser o cerne de nossa vida, é muito pouco!
Cons, texto maravilhoso, um refresco para a alma em tempos de tanta vulgaridade. Sério, acho que nunca houve tanta vulgaridade na moda como atualmente. Posso estar sendo demasiado trágica, mas é como enxergo.
Eu sempre fui partidária da máxima que “menos é sempre mais”, e atualmente parece que as pessoas vêem não simplesmente “o mais”, mas “o demasiado”, “o over”, o “tudo junto e ao mesmo tempo” como “mais”. Todas as informações possíveis, todas as “tendências do momento”, todas as marcas na mesma produção, e isso torna “a cara da ryqueza” uma caricatura que beira o ridículo. A falta de originalidade, de senso estético e – por que não – de bom senso tem transformado as pessoas em clones ambulantes. Mais do que nunca, a palavra vítima da moda faz todo o sentido.
Uma perda irreparável para a moda nacional a morte dessa estilista maravilhosa.
E só retificando o comentário acima da Ana… Ana, a Clo Orozco tinha uma doença chamada esquizofrenia paranoide, que é uma patologia psíquica grave, severa e crônica, que atinge 1% da população mundial. Não há nenhum indício de que a morte dela foi resultado de uma vida infeliz baseada na valorização exagerada do dinheiro, portanto sua afirmação é completamente inadequada e, muito provavelmente, inverossímel. Se vc tivesse tido alguém na família ou muito próximo com essa doença (eu tive, uma tia, que inclusive também faleceu por conta da doença), saberia que ela não tem nada a ver com futilidade.
Um beijo,
Mari
palmas para o seu texto e palmas para o comentário da mari
Parabens pelo excelente texto!
Adorei seu texto, ela tinha uma elegância ímpar, o que infelizmente tem estado cada vez mais em falta.
E parabéns ao adorável comentário da Mari.
bjo
Linda homenagem Constance ! Adorei o texto!
Parabéns pelo texto, lindas e relevantes palavras! As pessoas hoje confundem o chic com dinheiro, glamour e excesso!…Linda homenagem!
Nossa que texto sensível e maravilhoso. Pra mim VOcê é a cara da elegância e só alguém com tanta delicadeza poderia escrever algo assim. Parabéns pelo texto!!
Obrigada querida Constance, você conseguiu traduzir exatamente o que eu penso e sinto com a perda dessa grande estilista.
No dia cheguei a escrever um texto no meu facebook, porém o meu não foi tão sábio.
Infelizmente cada dia mais as pessoas confundem o sofisticado, com poder, arrogância, falta de educação.
Elegância, se tornou quase que sinal de família estruturadas e com base………ao contrário disso vem família desorganizadas, sem nenhum valor , o que faz cada dia mais a maioria das pessoas se tornarem superficiais, sem conteúdo e base alguma………a cara da nova Ryqueza.
Como já dizia minha avó: Por fora bela viola, por dentro pão bolorento!
Beijão que Deus continue te abençoando.
Linda Homenagem póstuma a Clô Orozco e palavras pontuais conceituando o luxo, o chic e a ryqueza. Adorei! Cristina
Simplesmente adorei o texto….
Texto perfeito. Além de uma linda homenagem à grande estilista, um sacode em tantas pessoas abobalhadas que vemos por aí. Elegância é uma pessoa se vestir adequadamente, falar baixo e nos momentos adequados, ser cortês com todos. Não precisa necessariamente ser discreta, mas em geral as pessoas elegantes são – e muito.
Elegância, infelizmente, quase virou sinônimo de senhora de meia idade, rica e de boa família, quando a elegância está aí, para ser usufruída, usada e abusada por todos, de qualquer idade, sexo e classe.
Nesta onda de deselegância, os vestidos das garotas nas baladas são microscópicos (e achar de mau gosto é ser gorda recalcada), os casamentos são decoradoss por garrafas e latas (e não gostar da decoração é ser esnobe), os filhos mal educados que fazem escândalo no shopping são crianças de personalidade (e discordar dessa falta de educação é ser intolerante).
De chorar. De lamentar. De doer. Vai em paz, Clô, esse mundo realmente já não era mais pra você.
Mari,
Obrigada pela explicação, mas vc foi deselegante ao explicar tal fato. “Se vc tivesse… vc saberia”. Por favor, mais elegância nas roupas, no falar baixo, na postura e na maneira de se comunicar.
Sem mais,
Ana Mattarazzo
Ana, td bem?
Não sei se eres a mesma do comentário acima, não ficou claro pra mim. Mas se sim, me desculpe minha intenção nunca foi ofendê-la.
É que durante muitos anos as doenças psiquiátricas foram associadas às razões erradas, o que contribuiu significativamente para a marginalização e exclusão social do doente psiquiátrico, e eu, como médica, me vejo na obrigação de desfazer esses mitos. Achei que seu comentário poderia dar margem ao entendimento de que há alguma relação entre esquizofrenia e futilidade, o que não é verdade. Era só isso.
Um bjo,
Mari
Casei há menos de 1 mes com um vestido da Huis Clos e fiquei extremamente chateada com a morte dela… era uma mulher incrível, linda, elegante e que construiu a marca mas chique do Brasil. Que Deus a tenha.
Como ler esse texto e não fazer um comentário?
Assim como esse blog há um tempo tem sido ponto de referência e reflexão para mim, o trabalho da Clô também foi assim.
“O chic não precisa gritar, ele sussurra porque tem segurança” e “O luxo não é o oposto da pobreza, mas sim o da vulgaridade” são pensamentos maravilhosos, que caracterizam um trabalho de qualidade.
Essa qualidade me faz querer sempre voltar aqui.
Constance,
Suas palavras não poderia ser mais acertadas ao falar da Clô. Sei que seguimos referências internacionais e que a moda hoje é mais cópia do que originalidade. Mas estilistas como a Clô e Ronaldo Fraga que fazem uma moda nacional sim, linda e cheia de estilo estão ficando cada vez mais raros por aqui. Tenho um vestido dela que tem mais de oito anos e uso em evento e recebo elogios. Atemporal e com estilo único.
Ser chic é complicado onde o que é importante é o tamanho da etiqueta que se veste. Perdemos sim não somente uma grande estilista, mas um pouco da identidade da moda nacional.
Parabéns pelo post e pela delicadeza nas palavras.
Romina
Quando a Clô morreu, lembrei da matéria que você postou na Open House sobre o apartamento dela. Lembro que ao ver aquelas fotos eu só pude constatar que elegância vem da alma e ela era uma das epítomes nesse sentido para mim, tanto que voltei a ver aquela matéria e fiquei um bom tempo encarando a foto dela na cozinha, tão serena, tão bela e tão sutilmente chic. Uma pena mesmo a perda de alguém que aparentava ser encantadora.
Parabéns pelo texto!
Lamentável perda! Principalmente nos dias de hoje em que estamos órfãos de referências, de bons exemplos, de boas maneiras, de bom senso. Mais do que um ícone da moda, foi-se um parâmetro de bom senso; de porte; do que é realmente elegante. Estamos vivendo num mundo onde tudo é descartável e tudo é comparácel e excessivamente ostentado.
Elegância nada mais é do que o porte e a naturalidade de quem tem educação. É saber se portar em todas as ocasiões e tratar as pessoas com respeito. Se issi for feito num modelito lindo de morrer, ótimo! O que não se pode é ser escravo do que se veste; É deixar a roupa grifada ser mais importante do que o conteúdo!
No mais, o over, o “tudo posso porque pago”, o ” quero mostrar que tenho dinheiro”… Tudo isso é o que mais se vê por aí. Como dito anteriormente em algum comentário acima, uma absurda inversão de valores. Triste!
Por isso mesmo, linda homenagem à estilista que com muita classe, vestiu mulheres e orgulhou o Brasil.