Carolina Mellone Etlin é uma super advogada, sócia do escritório Bragaglia, Mellone Etlin e Assumpção Advogados Associados, autora do livro Meus Pais Estão Se Separando… E Eu Com Isso? e está prestes a lançar seu segundo livro, desta vez, com dicas para os pais. Pedi à Carolina que respondesse uma entrevisitinha, porque, apesar de trabalhar (entre outras coisas) com divórcios, Carolina torce pelo casamento e acredita no amor! Seguem as perguntas e respostas:

Quando se casam, as pessoas esperam ser felizes para sempre. Mas, infelizmente, divórcios acontecem… O que você aconselha, como advogada, aos noivos antes do casamento?

O melhor conselho que posso dar é o seguinte: depois da festa é que a vida a dois começa de verdade, então para evitar sobressaltos, sustos, arrependimentos e surpresas desagradáveis, conversem sobre tudo antes de casar, tudo mesmo, todos os fantasmas devem ser eliminados antes do casamento, se você tem alguma coisa escondida, se sente vergonha de algo que fez, fale agora, se tem algo “feio” a contar de seu passado, conte agora, se tem alguma dúvida de como será a vida financeira do casal depois do casório, quem vai pagar o que, sentem, discutam, e decidam antes do casamento. Se ele (ela) desistir do casamento por causa dessas coisa, não era mesmo pra casar: casamento é um acordo, uma vontade de “looooooongo prazo”, se as coisas não conseguem ser ditas e resolvidas agora, mais tarde será pior. . .

É comum acordos pré-nupciais causarem saia-justa ou desconforto para uma das partes? (como a gente vê nos filmes americanos, que as mulheres se sentem ofendidas)

A forma correta e jurídica de chamá-los é ‘pacto antenupcial’, mas usamos a expressão ‘acordo pré-nupcial’ influenciados pela cultura americana. E também porque quando falamos ‘ante’, algumas pessoas entendem como ‘anti’, ou seja, que seria ‘contra’ o casamento, mas na verdade é ‘ante’, de ‘anteriormente’. A celebração do pacto não deveria causar saia-justa ou desconforto, mas pessoas, na maioria mulheres, na prática se sentem mesmo um pouco constrangidas, principalmente quando o assunto é abordado pelos noivos, e sempre no sentido de estabelecerem o regime da separação total de bens. . .

Um amigo estava me falando que criou uma empresa com a esposa para que todos os bens adquiridos durante o casamento fossem da empresa. Assim, se alguma coisa acontecesse com um ou com outro, não haveria necessidade daquela burocracia de inventário e herança, o outro ficaria com tudo automaticamente porque é uma sociedade empresarial – e o mesmo valeria para os filhos, caso alguma coisa acontecesse com os pais. Poderia explicar como isso funciona? Em caso de separação, facilitaria a divisão dos bens?

O que seu amigo fez foi uma ‘holding’ familiar. Isso é muito usado por casais que possuem um patrimônio muito grande, a fim de evitar, em caso de morte, a abertura e processamento de um inventário (quando se pagará 4% de todo o patrimônio do falecido à título de imposto causa mortis, o chamado imposto sobre a herança). Quando o patrimônio é pequeno esse tipo de empresa não vale a pena pois o imposto para manejar o patrimônio entre vivos é maior, além de o novo Código Civil ter proibido a constituição de empresas cujos sócios seriam apenas o marido e a mulher. Em caso de separação a divisão dessas quotas sociais obedecerá o regime de bens escolhido pelo casal. . .

Apesar de mediar tantos divórcios, você é muito bem-casada! Tem algum conselho/dica para as futuras esposas? Errar é humano, e perdoar também. Meu avô me ensinou que não se deve ‘somar’, ou seja, ficar jogando na cara “eu fiz isso, isso, isso, e você não fez nada”, ou ao contrário, “você fez isso, isso, isso, e mais aquilo”, deve-se terminar o dia com tudo as claras, resolvido, e voltar pra casa com aquela alegria de ‘cachorro’, ou seja, com o ‘rabo abanando’!!!

{Ela nem deve se lembrar, faz muuuito tempo, uns 12 anos… Estávamos almoçando e havia um casal na mesa que não párava de se alfinetar. Então, a Carolina me falou uma coisa que tomei como um bom conselho para o futuro. Ela disse: “Nunca faça brincadeirinhas/piadas apontando os ‘defeitos’ ou reclamando do seu namorado na frente dos outros.” Parece óbvio, né, mas às vezes acho que as pessoas não se dão conta de quão desrespeitoso isso é com o companheiro e constrangedor para os que estão à volta… mesmo sendo em “tom de piada”…} . . E segundo a Carolina, as causas das separações são quase sempre as mesmas. Ela conta aqui quais são elas:

– Homens reclamam de: falta de sexo;  falta de apoio e interesse da mulher por seu trabalho; falta de vida própria com amigos, familiares; mau-humor de mulher chata; mulher que se larga, engorda, vira um “trubufu”; mulher que vira mãe, e esquece que era a mulher; mulher que exige a participação do homem nos afazeres domésticos, que fique acordado durante a amamentação, troque cocô, essas coisas; mau-humor. (*gente, essas são as palavras deles, hein! Não são palavras/idéias/opiniões da Carolina!) . .

– Mulheres reclamam de: serem jogadas para segundo plano, depois do trabalho; falta de carinho; falta de diálogo; opressão sexual e financeira; homem que viaja demais; homem que não se lembra das datas importantes; homem que não percebe suas necessidades e carências; agressão verbal e física; falta de companheirismo.

Foto: jornal Estado de São Paulo